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Guerra sem fim: terra, poder e omissão fomentam violência no campo em MS


Indígenas teriam incendiado sede da fazenda Ipuitã, em Caarapó (Foto: Reprodução). Por: Soares Filho | 31/10/2025 10:14

Com oito mandatos e uma base eleitoral crescente, de 13.303 eleitores em 1998 para 39.329 em 2022, o deputado estadual pelo PSDB José Roberto Teixeira, o Zé Teixeira, é a figura mais emblemática dos conflitos indígenas fundiários em Mato Grosso do Sul.

Presente em todas as comissões importantes relacionadas ao agronegócio, ele é proprietário da Fazenda Santa Claudina, uma gleba de 4.323,59 hectares em Caarapó, das quais 4.192,41 hectares se sobrepõem à área que os Guarani-Kaiowá reivindicam como originária, fértil de 11.400 hectares no Sul do Estado.

A Terra Indígena Guyraroká, reconhecida pela Funai, teve sua homologação anulada pelo Supremo Tribunal Federal em 2014, pressionado por produtores e parlamentares da região. No último fim de semana, foi palco de mais um conflito, com incêndio na sede da Fazenda Ipuitã provocado pelos indígenas, em represália ao suposto sequestro de uma adolescente.

Teixeira simboliza a resistência ruralista contra a demarcação de terras indígenas. Pecuarista e líder da bancada ruralista, também doou R$ 10 mil à campanha de Jair Bolsonaro em 2022. Sua atuação política defende o “marco temporal” e mantém vínculos estreitos com entidades do agro, funcionando na prática como ponte entre o poder econômico e o Legislativo, o segmento que controla o agronegócio e, por extensão, os conflitos pela terra.

Ele é a face mais visível de oligarquias regionais que reúnem famílias de sobrenomes tradicionais como Pedrossian, Arcoverde, Camacho e até os paranaenses Sperafico, consolidando o sistema ruralista e integrando política e domínio econômico em litígio com indígenas.

Levantamento do site De Olho Nos Ruralista sustenta que dos 42 políticos que se dizem donos de áreas sobrepostas a terras indígenas, 17 estão no Estado. A repetição histórica da violência e a omissão institucional criam um padrão estrutural, como afirma o coordenador do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) em Mato Grosso do Sul, Matias Rempel: “Há uma regularidade de ilegalidades. O Estado repete os mesmos crimes há décadas.”

Rempel considera Teixeira um dos principais obstáculos aos direitos indígenas: “Ele é fundamental para os invasores, porque faz a Assembleia agir conforme interesses privados.” Em nota, o deputado condena a “manipulação de indígenas para invadir propriedades” e responsabiliza o Cimi pelo incêndio na Fazenda Ipuitã, vizinha à sua, mas dentro da mesma gleba sobreposta, afirmando que todos os responsáveis responderão judicialmente. Em meio ao clima de tensão, Teixeira acrescenta: “Temos provas concretas de que o Cimi alugou os ônibus que transportaram os indígenas até a sede da Fazenda Ipuitã e que seus dirigentes incentivam ações violentas como forma de chamar a atenção de organismos internacionais para essa fraude que é a demarcação.”

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